14 de Março de 1975 - de regresso a Luanda

Com dois dias de atraso, confesso que não me lembro como foi que eu consegui ir em plena madrugada do aeroporto de Luanda para o Grafanil, com uma mala na mão e á civil, numa altura que na cidade já valia tudo até tirar olhos, segundo as minhas pesquisas são cerca de duas horas a pé, mas lembro-me que chegado ao quartel, logo que o capitão (António Almendra), substituo do falecido capitão Ramiro Pinheiro, abriu o seu escritório, aprecei-me a apresentar-me e explicar a razão do meu atraso, mais ou menos já sabia que também a partir dali a minha vida não seria a mesma, e com voz de Oficial do quadro disse-me , vai levantar uma arma e apresenta-te ao 3º grupo de combate, confesso que na altura entendi a ordem como um castigo pelo meu atraso, isto depois de uma noite de viagem, uma maratona para chegar do aeroporto de Luanda ao Grafanil, e pouco tempo depois da sentença, mas com 22 anos agente aguentava tudo, embora cabisbaixo a imagem tirada na hora mostra que ali estava eu proto para a luta que na altura não era mole.
Mas como sempre fui homem de aceitar as coisas pelo lado positivo, logo levei a sentença como mais uma hipótese de fazer o que gostava, fotografar os momentos mais dramáticos, que até então não tinha tido essa oportunidade, acabado de chegar de madrugada e logo pelas nove da manhã lá estava eu de camuflado novinho em folha, cartuchos, cantil e à namoradinha abraçado para passear-mos agarradinhos e sempre inerentes, nos musseques de Luanda, até então nunca tinha abraçado uma namoradinha assim em Angola !!!!,.
Hoje mais do que nunca, sei que a sentença foi benéfica em todos os sentidos.
Se não fosse assim, hoje não saberia dar o valor a quem lá andava no meio dos musseques enquanto eu estava acomodado dentro do quartel e sobretudo não teria vivenciado nem experiência para contar as histórias que ainda tenho para contar.