Na hora da Partida
Aqui não me lembro bem qual foi o dia, mas tenho quase a certeza que foi no dia 11 de Maio por volta das 8 horas da manhã, que a porta se fechou, na hora da partida.!!!
Normalmente quando se tem irmãos mais velhos, estes são os nossos ídolos ou heróis, comigo não podia ser diferente e até algum tempo isso era autêntico.
Também aqui, segui o exemplo do meu irmão mais velho, quando ele foi em 1967, foi sem dizer nada a ninguém, e foi com um lindo postal do paquete Vera Cruz que soubemos que já estava em Angola.
Não sei qual foi a sensação dele quando a porta se fechou, mas comigo foi tal e qual assim!!!
Morava-mos num casal separado do lugar da aldeia e separado por um riacho, que ao atravessa-lo havia uma fonte e a partir ali deixava-mos de ver a casa.
Como nas redondezas já lá tinham ficado três na guerra e todos meus conhecidos, dois dos quais casados e com filhos, eu também já era casado e minha mulher estava grávida de quatro meses, deu que pensar naquela hora, principalmente ao virar da esquina.

Na hora da partida
Quando a porta se fecha,
Aquele tique se espelha,
Açoita como chibata de pele,
Agente tenta fazer um cerco, na mente
Tirar tudo do pensamento,
Tenta enganar toda a gente,
E nem olhar para traz,
Mas de repente!!!!
Agente, para e olha,
E tudo o que a mente nos traz,
Só um certo frio nos acolha.
No caminho, agente chora,
Não é da dor que machuca,
Rezamos, que ninguém veja,
Na moral de quem manda,
Homem soldado não chora,
Mas dentro da nossa mente,
Tudo lá dentro lateja,
A última esquina, está logo além,
Voltamos a parar,
Limpamos a lágrima,
Que teima em rolar,
Lembramos de alguém.
Um ultimo olhar,
E eu lembro o que pensei,
Será que vou voltar?
Ou algo mais já não sei,
Mas um homem que é homem,
" Afinal, também pode chorar "